Série: Doutrinas da Graça


Alguém Foi Salvo na Cruz? (Parte I)

“Afirmamos que Cristo morreu para assegurar a salvação de uma tão grande quantidade de pessoas que ninguém é capaz de enumerar, pessoas que mediante a morte de Cristo não somente podem ser salvas, mas são salvas, têm de ser salvas; e não existe a possibilidade de, por meio de qualquer casualidade, elas serem outra coisa, exceto pessoas salvas” (Charles Haddon Spurgeon).

Houve um tempo em que eu me qualificava como um “calvinista de quatro pontos”. Existem muitos que utilizam essa expressão e, durante quase todo aquele tempo, o único ponto que eu rejeitava era o da “expiação limitada”. Existe algo nessas palavras que não soa corretamente. Como pode a expiação realizada por Cristo ser limitada? Isso é exatamente o que eu pensei quando comecei a meditar com seriedade sobre todo o assunto. A minha experiência é que muitos dos que rejeitam a expiação limitada ou específica de Cristo realmente não crêem na completa soberania de Deus, na total depravação do homem e na eleição incondicional da parte de Deus. Muitas das objeções apresentadas contra essa doutrina são objeções a algum dos assuntos que acabamos de mencionar, e não contra a própria expiação limitada. A “quebra” em minha maneira de pensar resultou da leitura do livro de Edwin Palmer, Os Cinco Pontos do Calvinismo (The Five Points of Calvinism; Grand Rapids, Baker Book House, 1980, pp. 41-55). Ao realizar uma transmissão de rádio a respeito da verdade da graça eletiva de Deus, um ouvinte desafiou-me em relação à morte de Cristo. “Por que Cristo morreu em favor de todo o mundo, se Deus não tencionava salvar todos?” Olhei para meu companheiro de programa, ele olhou para mim; fiz uma decisão mental de estudar mais sobre aquele assunto em particular. Logo que voltei para casa, peguei o livro de Edwin Palmer e comecei o capítulo que se referia à obra de expiação realizada por Cristo.
Tornei-me um calvinista de “cinco pontos”, ao ler a seguinte seção:

“A pergunta que necessita de uma resposta exata é esta: Cristo realmente fez ou não fez um sacrifício vicário pelos pecados? Se Ele o fez, não foi em favor de todo o mundo, pois, se assim fosse, todo o mundo seria salvo” (Palmer, Os cinco Pontos do Calvinismo, p. 47).
Fui confrontado com uma decisão. Se eu continuasse afirmando uma expiação “universal”, ou seja, se eu dissesse que Cristo morreu vicariamente no lugar de todo homem e toda mulher no mundo inteiro, seria obrigado a dizer: 1) que todos seriam salvos; 2) que a morte de Cristo não foi suficiente para salvar sem obras adicionais. Eu sabia que não estava disposto a crer que a morte de Cristo não podia salvar sem as obras humanas. Por conseguinte, eu tive de entender que a morte de Cristo foi realizada em favor dos eleitos de Deus e que ela realiza seu propósito: salva aqueles em favor dos quais ela aconteceu. Nesse ponto, compreendi que durante todo o tempo havia “limitado” a expiação. Na verdade, se você não crê na doutrina reformada da “expiação limitada”, você crê em alguma forma de expiação limitada! Como pode ser isso? A menos que você seja um universalista (ou seja, crê que todas as pessoas serão salvas), então, você crê que a expiação realizada por Cristo, se foi realizada em favor de todos os homens, é limitada em seus efeitos. Você crê que Cristo morreu em favor de alguém e, apesar disso, aquela pessoa pode ficar perdida por toda a eternidade. Você limita o poder e o efeito da expiação. Eu limito o escopo da expiação, enquanto afirmo que seu poder e efeito são ilimitados! Um escritor expressou isso muito bem, quando disse:
“Não deve haver qualquer mal-entendido quanto a este assunto. O arminiano limita a expiação assim como o faz o calvinista. Este limita a extensão da expiação quando afirma que ela não se aplica a todas as pessoas... o arminiano, por sua vez, limita o poder da expiação, pois ele afirma que ela não salva ninguém. O calvinista limita quantitativamente a expiação, mas não qualitativamente; o arminiano limita-a qualitativamente, mas não quantitativamente. Para o calvinista, a expiação é como uma ponte estreita que segue em todo o caminho por cima do rio; para o arminiano, a expiação é como uma ponte larga que vai somente até metade do caminho. Na realidade, o arminiano coloca mais limitações severas na obra de Cristo do que o faz o calvinista” (Lorraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination [A Doutrina Reformada da Predes-tinação]; Philipsburg, New Jersey, Presbiterian and Reformed Publish-ing Company, 1932, p. 153).
Não estamos falando sobre apresentar alguma terrível limitação na obra de Cristo, quando nos referimos à “expiação limitada”. Na verdade, estamos realmente apresentando um ponto de vista mais elevado sobre a obra de Cristo no Calvário, quando dizemos que a morte de Cristo realiza alguma coisa na realidade e não apenas na teoria. A expiação, nós cremos, foi autêntica, vicária e substitutiva; ela não foi uma expiação possível e teórica que, para ser eficaz, depende da ação do homem. E, quando alguém compartilha o evangelho com pessoas envolvidas em falsas religiões, eu afirmo que a doutrina bíblica da expiação realizada por Cristo é uma verdade poderosa e a única mensagem capaz de causar verdadeiro impacto em lidar com os muitos ensinos heréticos sobre a pessoa de Cristo apresentados em nossos dias. Jesus Cristo morreu em favor daqueles que o Pai, desde a eternidade, decretou que salvaria. Existe absoluta unidade entre o Pai e o Filho na salvação do povo de Deus. O Pai decretou a salvação deles, o Filho morreu no lugar deles, e o Espírito os santifica e os conforma à imagem de Cristo. Esse é o testemunho coerente das Escrituras.



Autor: James White
Extraido: Editora FIEL
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